domingo, 20 de janeiro de 2008

Penso, logo existo (Descartes)



É fácil pensar que se existe,
Basta pensar que se pensa,
Mesmo que o acto de pensar não seja mais do que dar roupagens diferentes a ideias preexistentes.
Ainda que “existir” se resuma a passar pela vida aglutinando essas ideias avulsas, de forma a elaborar um discurso mais ou menos coerente, mais ou menos original, mais ou menos nosso…
Depois é só fazer com que os outros pensem que pensamos e que, por isso mesmo, existimos.
Não faltarão solicitações para comentar todos os grandes eventos mundiais, alcançando-se assim o estatuto de grande pensador.


Na nossa sociedade proliferam esses grandes pensadores, capazes de falar sobre todos os assuntos. Sempre com a mesma convicção.
Desde a literatura à politica, passando pelo futebol e pela religião, eles sabem tudo de tudo. Conhecem as verdadeiras razões dos problemas e não hesitam em apontar os culpados.
Sabem, também, as medidas certas a tomar e têm o código secreto da fórmula que vai mudar o mundo.


Sabemos que tudo não passa de teoria. Mesmo assim assistimos, impávidos e serenos, enquanto nos deixamos intoxicar por todos esses discursos de ocasião, dignos de filósofos frustrados, de minúsculos Zaratustras em segunda mão…

sábado, 19 de janeiro de 2008

Quem se importa?

Eu gostava de conseguir escrever um livro belo e diferente de tudo o que já se escreveu.
Um livro que não fosse daqueles que lemos e esquecemos num canto qualquer da estante. Algo que perdurasse para além da leitura, que fizesse pensar, mudar mentalidades… sei lá! Nem eu percebo muito bem o que gostaria de escrever.
É difícil explicar o que sinto.
Também é difícil sentir o que sinto.
Sempre que observo o mundo à minha volta e medito sobre o que vejo, tenho a firme convicção de que tudo poderia ser diferente, se nos preocupássemos mais com o que está próximo de nós e fizéssemos tudo o que está ao nosso alcance para inverter o sentido das coisas. Mas não é isso que acontece.
Vivemos metidos nas nossas conchas mesquinhas, sentimo-nos ameaçados por tudo o que não conhecemos e achamos mais confortável virar a cara para o lado sempre que algo nos choca. Problemas como a fome, a droga, a violência e todas essas misérias humanas, só nos interessam na medida em que possam interferir no nosso dia a dia. Emocionam-nos as imagens degradantes que aparecem na televisão e apressámo-nos, com os olhos humedecidos, a pegar num papelito e a anotar o número de conta que passa em rodapé, com a intenção de depositar meia dúzia de euros. Depois mudamos de canal e pronto!
Consciência tranquila! Já fizemos a boa acção do dia e a nossa sensibilidade não nos permite ver nem mais um bocadinho… como se as coisas deixassem de existir pelo simples facto de não as querermos ver…
Claro que o destino do papelito com o número é, quase sempre, o cesto dos papéis.
Não é pelo facto de termos mudado de intenção, nada disso! Ainda continuamos preocupados com as pessoas que não têm casa, roupa ou comida para dar aos filhos. O problema é que, depois de fazermos contas e mais contas, chegamos à (hipócrita) conclusão de que não nos é possível ajudar ninguém. Temos sempre coisas urgentes a comprar naquele momento: - se não é o carro que precisa de ser trocado pelo modelo mais recente, são os cortinados do ano passado que já nos cansam e, mais grave ainda, não condizem com os sofás, que também tivemos de comprar à pressa para condizerem com os novos tapetes. Depois disto e dos gastos com a alimentação, ainda temos as contas no ginásio, no pronto a vestir, no cabeleireiro, na esteticista, etc.; e já temos que poupar muito se quisermos, ainda, ir almoçar fora algumas vezes ou até à discoteca com os amigos.

Como está mais do que provado, por melhores que sejam as nossas intenções, não temos mesmo disponibilidades financeiras para socorrer pessoas desafortunadas, nem sequer podemos comprar alguns litros de leite mensais para alimentar crianças famintas.
Mesmo assim, para que o mundo saiba o quão sensíveis somos, lá vamos dando umas moeditas a mãos estendidas, de vez em quando.

Pois é…acabei por me dispersar e ainda não consegui explicar o tipo de livro que gostaria de escrever.

Pensando bem…quem se importa?

terça-feira, 7 de agosto de 2007